“Foi uma fala contra a democracia, contra a imprensa”, disse a senadora Eliziane Gama (Cidadania)
Senadores membros da CPI da Pandemia aproveitaram os resmungos de alguns governistas pelo fato da médica Nise Yamaguchi ter sido rotundamente desmascarada na sessão de terça-feira (1), alguns deles clamando por mais “urbanidade”, para denunciar a covarde agressão desferida no dia anterior por Jair Bolsonaro à jornalista Daniela Lima, da Rede CNN. Bolsonaro chamou a repórter de “quadrúpede”.
Durante a edição da última quarta-feira (26) do programa CNN 360º, a jornalista apresentou os dados sobre a geração de empregos no país – que, segundo os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), teve 120.935 vagas de trabalho com carteira assinada em abril. Apesar de positivo, o índice foi o menor de 2021. A jornalista, então, falou: “Não saia daí, porque agora, infelizmente, a gente vai falar de notícia boa, mas com valores não tão expressivos”.
Estimulado por apoiadores, que editaram o vídeo, cortando a fala da jornalista e deixando somente a parte inicial do que ele havia dito, Bolsonaro partiu para a baixaria, como é seu costuma quando se depara com mulheres. “É uma quadrúpede. Afinal de contas, acho que não preciso dizer de quem ela foi eleitora no passado, né? De outra do mesmo gênero”, xingou o desqualificado.
O presidente da CPI, Omar Azis (PSD-AM), se solidarizou com a jornalista agredida. “Isso não se faz com ninguém, ainda mais com uma mulher”, disse Aziz “O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou: “causa espanto ocorrerem, nesta Comissão, reivindicações de urbanidade e não ter tido, no começo do dia, uma manifestação de solidariedade a quem exerce a imprensa livre, a quem exerce um dos pilares da democracia; a uma mulher, jornalista, que exerce uma das funções centrais em um Estado democrático de direito, que é fiscalizar todos nós. Às vezes, há um sentimento de que há uma espécie de memória seletiva de a quem se solidarizar”.
O relator da CPI, Renan Calheiros, também criticou o comportamento de Jair Bolsonaro e foi acompanhado pelo senador Tasso Jereissati. Representante da bancada feminina, Eliziane Gama (Cidadania-MA) também se manifestou condenando a agressão do mandatário. “Foi uma fala contra a democracia, contra a imprensa”, disse a parlamentar. Ela afirmou que o presidente foi responsável por significativa parte dos 428 ataques a profissionais de imprensa em 2020. As ocorrências foram apuradas pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas).
A senadora Leila (PSB-DF), durante sua fala para inquirir a depoente , também se solidarizou com a jornalista e foi acompanhada pelo senador Humberto Costa (PT). “Quero, inclusive, me solidarizar com a jornalista Daniela Lima, que foi vítima dessa grosseria desse cidadão que ocupa – espero eu que muito rapidamente – o cargo de presidente da República”, disse o senador pernambucano. Até integrantes da tropa de choque de Bolsonaro foram obrigados a condenar a agressão à jornalista da CNN, como o foi o caso do senador Eduardo Girão, do Podemos, do Ceará. “Eu não concordo com esse tipo de comportamento e com essas agressões”, disse ele.