Teve que ouvir as panelas porque faltou com a verdade sobre as vacinas, sobre os empregos e sobre os investimentos públicos
Foi só Jair Bolsonaro aparecer na Televisão nesta quarta-feira (2) para o país inteiro explodir num grande panelaço de protesto. As mentiras ditas por ele revoltaram a população. Todos sabem que a pandemia está um inferno e que só começará a ceder quando cerca de 75% da população estiver completamente vacinada. Mas ele disse que está tudo um espetáculo. Que o Brasil é o campeão mundial de vacinação.
A verdade é que o país está com apenas 10,6% de sua população vacinada com as duas doses e já estamos com mais de 460 mil mortos. Somos o segundo país do mundo em número de mortos por Covid-19, atrás apenas dos EUA.
BOLSONARO ATRASOU CONTRATOS
Bolsonaro atrasou todos os contratos de compra de vacinas. Fez campanha contra elas. Recusou-se a adquirir a CoronaVac, do Butantan, e a vacina da Pfizer. Como as investigações da CPI da Pandemia já revelaram, durante seis meses ignorou uma carta do laboratório americano que oferecia 70 milhões de doses de vacinas.
Disse absurdos sobre os efeitos das vacinas e até que elas poderiam transformar as pessoas em jacaré. Achava melhor que a população se infectasse rapidamente. Quanto mais rápido isso acontecesse, na visão de Bolsonaro, mais rapidamente se atingiria a tal “imunidade de rebanho”. Não importava quantas milhares de pessoas morreriam com esse método genocida. Não fosse o governador João Doria, de São Paulo, e o Instituto Butantan, praticamente, não haveria imunizante nenhum sendo usado no país até hoje. Agora, Bolsonaro vai à TV dizer cinicamente que o país é o quarto do mundo em vacinação. Pura enganação.
Quando a comparação é feita entre o total de doses aplicadas e o tamanho da população de cada país, que é o que efetivamente interessa para quem deseja realmente debelar a pandemia, o Brasil é o 83º no ranking de aplicação da 1ª dose e o 85º na aplicação das duas doses, segundo o painel de Our World In Data, da Universidade de Oxford.
Quando se avalia a quantidade total de doses, o Brasil aparece tendo aplicado 68,2 milhões de doses, vindo atrás da China, com 681,9 milhões, dos EUA, com 296,4 milhões e da Índia, com 213 milhões de doses aplicadas.
Só que apenas o número absoluto de vacinados não tem significado na luta contra a expansão do vírus. O resultado depende do tamanho do país e da população. Depende do percentual da população que é vacinada. Países com populações pequenas, com menos doses aplicadas em número absoluto, estão muito mais adiantados do que o Brasil na cobertura vacinal de sua gente. É pura demagogia e enganação dizer que o Brasil é o quarto país que mais vacinou no planeta, como fez Bolsonaro.
FALTAM VACINAS NO BRASIL
O ritmo de vacinação no Brasil está muito abaixo das necessidades reais da população. Estamos vivendo uma tragédia. Milhares de pessoas estão morrendo diariamente. Faltam vacinas e não há nenhum esforço por parte de Bolsonaro para resolver este grave problema. Sua atenção está quase exclusivamente voltada para seus passeios de moto e aglomerações nos fins de semana e outras atividades ‘espalha vírus’ pelo pais à fora.
Enquanto isso, o número de casos de Covid-19 cresce assustadoramente. Nesta quarta-feira (2) foram 92 mil casos em 24 horas, maior número desde março. Os hospitais voltaram a ficar lotados, voltaram a faltar remédios de intubação, mais de duas mil pessoas morrem todos os dias. Além disso, a crise econômica, fruto de uma pandemia arrastada, não se resolve, deixando milhões de pessoas na penúria e, muitas delas, literalmente, passando fome.
Mesmo assim, Bolsonaro mentiu cinicamente dizendo que há vacinas “para todos que assim o desejarem”. “Vacinas essas”, segundo ele, “que foram aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”. Mentira, milhões de vacinas acordadas ainda não foram aprovadas pelo órgão regulador, havendo falta de vacinas no país. Muitos estados estão tendo dificuldades para garantir até mesmo a segunda dose da imunização. O atraso nos pedidos e a escassez de matérias primas no mundo têm atrasado a entrega dos imunizantes para o Programa Nacional de Imunização.
O Brasil poderia, por outro lado, ter saído na frente não fosse a sabotagem de Bolsonaro. Poderia ter adquirido mais imunizantes do consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde, por exemplo. O Consórcio ofereceu ao país um número de imunizantes para atender a metade da população brasileira, mas Bolsonaro preferiu comprar um número de doses que atende apenas a 10% da população do país. Por conta dessa e outras posturas, estamos no final da fila dos países que precisam adquirir vacinas ou insumos para produzi-las.
DESEMPREGO CRESCEU
Ele mentiu também em relação aos empregos. Disse que “terminamos 2020 com mais empregos do que em 2019”. Bolsonaro usou como base para chegar a essa afirmação falsa os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, mas a comparação não é válida. Ela é falsa, porque houve mudança da metodologia de cálculo do desemprego em 2020. Não há como fazer a comparação entre os anos de 2019 e 2020 pois as metodologias são diferentes. Hoje, um trabalhador que tem um contrato precário, como o intermitente, por exemplo, mesmo não tendo trabalhado uma única hora no mês e auferido qualquer renda, é considerado empregado nos critérios de Bolsonaro e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
Além disso, a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) registrou uma queda de 7,8% no emprego formal no setor privado entre 2019 e 2020. A taxa média de desemprego está batendo um recorde em 2021, com de 14,7% de desempregados, segundo o IBGE. Ou seja, mais uma mentira.
Ele faltou com a verdade também sobre o valor gasto com a ajuda emergencial. Disse que foram destinados R$ 320 bilhões para essa finalidade, quando o Portal da Transparência mostra que são R$ 295 bilhões para sustentar o auxílio de R$ 600 aprovados pelo Congresso Nacional contra a vontade de Bolsonaro e Guedes.
E, mesmo com a pandemia se agravando em 2021, o capitão cloroquina, primeiro aboliu a ajuda emergencial por mais de três meses para as milhões de pessoas que necessitavam e, depois, pressionado pela sociedade, retornou, no início deste ano, mas o fez com o ínfimo valor de R$ 250 por pessoa em média, sendo que a maioria vai receber apenas R$ 150. Não é à toa que o valor total destinado para o programa em 2021 foi reduzido para apenas R$ 44 bilhões, valor muito distante dos R$ 295 bilhões gastos no ano passado.
MENOR TAXA DE INVESTIMENTO PÚBLICO DA HISTÓRIA
Bolsonaro disse, ainda, que o governo está fazendo investimentos em obras, mas a taxa de investimento público o desmente categoricamente. Ela foi de 2,4% do PIB em 2020. É uma das menores taxas da história do Brasil, segundo dados do IBGE. A taxa geral de investimento no país, medida pela Fundação Getúlio Vargas, de 16,4% em 2020, está entre as menores dos últimos 50 anos e o FMI projeta uma taxa de 15,4% em 2021. Apenas 18 países do mundo projetam investimentos menores do que os do Brasil.
Disse que está retomando obras paradas e inaugurando pontes, mas não se vê nada disso. O investimento público, que já era um dos mais baixos desde o início da série histórica, caiu ainda mais em 2020. A ponte que Bolsonaro inaugurou na semana retrasada no Amazonas é um retrato de seus “investimentos”. Era uma pinguela de madeira que tinha apenas 20 metros de extensão. O que se vê no país não é nenhuma grande obra e, sim, a volta dos apagões, a elevação dos preços de energia elétrica, de combustíveis e de alimentos, além da perda de renda e de emprego.
A única coisa que ele está realmente fazendo freneticamente é ajudar, e muito, a espalhar o vírus. Suas ações se resumem a entregar de mão beijada o patrimônio público brasileiro para o capital estrangeiro através das privatizações e a sabotar, deliberadamente, as vacinas, chocando-se frequentemente com as ações de governadores e prefeitos na defesa das medidas de combate à Covid-19, além dos conflitos com o Supremo Tribunal Federal e a imprensa.
Não por outro motivo, a população brasileira bateu panela de norte a sul do país assim que ele apareceu na TV e começou a mentir. O panelaço, as pesquisas que mostram a queda no número de apoiadores do presidente e as manifestações de protesto que ocuparam as ruas no último sábado vão, pouco a pouco, desmascarando cada uma dessas mentiras.
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