O senador Otto Alencar (PSD-BA), em sua fala, desmascarou completamente o charlatanismo da principal conselheira de Jair Bolsonaro nos assuntos de Covid-19
O depoimento da doutora Nise Yamaguchi à CPI da Pandemia, nesta terça-feira (1), é um labéu à ciência brasileira e mundial. Há muito tempo a medicina brasileira abandonou os curandeirismos, os achismos e as “experiências” às escuras. Todos os experimentos clínicos são obrigados a serem acompanhados de uma comparação com grupos controles e devem ser realizados adotando-se a forma duplo cega, ou seja, sem que as pessoas saibam que medicação está sendo usada.
Nada disso foi feito nos “trabalhos científicos” citados pela médica depoente e nem naqueles realizados por ela em seus cerca de 400 pacientes. Ela os citou como tendo obtido “bons resultados” com o uso de cloroquina. Não houve nenhum rigor científico nas alegações da médica interrogada. O senador Otto Alencar (PSD-BA), em sua fala, desmascarou completamente o charlatanismo da principal conselheira de Jair Bolsonaro nos assuntos de Covid-19.
O parlamentar mostrou claramente que a médica não tem conhecimento suficiente em infectologia. Ela tem experiência em oncologia, reconheceu o senador, mas não conhece nada sobre infectologia. A “doutora” bolsonarista não soube dizer aos senadores, por exemplo, a diferença entre um protozoário e um vírus, quando foi questionada pelo senador, que é médico. Ele chamou a atenção de que a médica recomendou o uso indiscriminado de cloroquina sem exames prévios, o que é altamente condenável na pratica clínica.
É verdade que a ciência muda suas opiniões frequentemente, as condutas mudam sempre que as evidências assim o determinam. É assim que a medicina e a ciência avançam. Aliás, é assim que o conhecimento humano vai se consolidando. Todas as observações iniciais de que a cloroquina teria efeito in vitro no combate à Covid-19 foram derrubadas pela evidências clínicas. A OMS, o CDC americano, o Hospital Albert Einstein, a Anvisa e outras instituições científicas condenaram o uso desta medicação pra Covid-19.
A metodologia da “medicina baseada em evidências” foi uma grande conquista da medicina brasileira. É nela que a ciência médica vem se baseando há muitas décadas para chancelar ou não o uso de tal ou qual medicação, ou tal ou qual vacina para esta ou aquela patologia. Esta metodologia científica, que cobra sempre as melhores evidências possíveis para se referendar condutas medicamentosas, reduziu em muito o espaço para o charlatanismo médico no Brasil. Não é mais aceitável pela ciência médica brasileira comportamentos do tipo do apresentado pela médica depoente.
O bolsonarismo e seu obscurantismo anticientífico ressuscitou as práticas nefastas dos charlatões. Bolsonaro abraçou o charlatanismo para justificar sua inação e sua sabotagem às vacinas.
Todas as doenças virais agudas, que são em sua maioria autolimitadas, ou seja, se curam sozinhas, são passíveis de sofrerem a ação de charlatões. Por que? Porque boa parte dos pacientes são curados por seu próprio sistema imunológico, mas os charlatões aproveitadores, dizem que a doença, que é autolimitada, foi curada pelas suas “poções mágicas”.
No caso da Covid-19, mais de 95% das pessoas acometidas pelo vírus se curam sozinhas, tendo apenas sintomas leves. Poucos pacientes são hospitalizados e uma percentagem menor ainda vai à óbito. O que os bolsonaristas fazem é dizer que as pessoas que se curam de Covid-19, que são a ampla maioria dos infectados, o foram em consequência do uso da cloroquina. Esta é a base do charlatanismo bolsonarista, agora esclarecidos na CPI.
A diferença entre um protozoário e um vírus até a garotada aprende em Ciências no primeiro grau. Não tem a história de ser boa em oncologia mas não em infectologia; coisas básicas qualquer médico tem a obrigação de saber. Todos os alunos passam pela cadeira de Parasitologia, depois pela Microbiologia e Imunologia, também pela Clínica Médica, e finalmente pela Infectologia durante o curso. Vi o curriculo da tal médica e concluo sem medo de falhar: é a maior empulhação que vi na minha vida, digna de um 171. É tudo muito repetido e sem indicações precisas. Caso para se ter muito cuidado até em chegar perto.