O cacique Raoni Metuktire, líder do movimento pelos direitos dos povos indígenas, afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro sempre estimulou a violência contra os povos originários e o meio ambiente durante todo o seu governo. “Bolsonaro é um louco, ele não pensa direito”, afirmou.
“Quando ele (Bolsonaro) entrou no poder, incentivava as pessoas para destruir os povos indígenas e o meio ambiente. Esse discurso dele era só incentivar o ódio nas pessoas”, disse Raoni ao jornal ‘O Globo’. “E foi isso que ele fez durante o tempo dele. Raoni afirma ainda que por diversas ocasiões Bolsonaro tentou promover a desavença e conflito entre os próprios indígenas, colocando uns contra os outros, com a promessa de benefícios”.
“Mas hoje, pelo menos eu, tentei evitar isso. Para que não haja mais guerra entre os povos e que eles estejam ali para defender o que é seu, defender a família. Eu evitei essa guerra entre indígenas, porque o discurso do Bolsonaro era esse todo o tempo”. “Incentivou a matar indígena”.
Para a liderança, o estímulo ao ódio contra os povos originários nos últimos anos começou após Michel Temer assumir a Presidência, em 2016. “Temer, vice da Dilma, foi ele que começou a incentivar as pessoas a ter ódio nos povos indígenas nos últimos anos”. “E isso se sucedeu para Bolsonaro, que reforçou o discurso dele, que incentivou as pessoas a matar indígena”.
“Se alguém atrapalhar, mata ele. Ele até pedia para as pessoas matarem indígenas quando estivessem contrariando ele”, denunciou. “Bolsonaro não tem noção do que ele fez, Bolsonaro é um louco, ele não pensa direito. Eu não aceitava ele”.
As declarações foram feitas durante o encontro de quatro dias que reuniu 54 etnias do país na Capoto-Jarina, a quase mil quilômetros da capital de Mato Grosso, ao atenderem ao chamado de Raoni, para tratar da defesa dos direitos e proteção aos povos indígenas.
Nesta sexta-feira (28), os participantes assinaram uma carta em que condenam a tese do marco temporal e cobram das autoridades mais respeito e atenção aos povos originários, além de fazer um alerta para os efeitos das mudanças climáticas provocadas pela ação do homem sobre a natureza.
O encontro acontece em meio à publicação de um relatório estarrecedor do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) nesta semana. O documento aponta o ex-presidente Jair Bolsonaro como responsável por crime de genocídio contra os povos indígenas durante a sua gestão, período em que quase 800 indígenas foram assassinados e outras 3.552 crianças de até quatro anos morreram, entre outros dados de violência.
O encontro em São José do Xingu teve as presenças da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e da presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana. Era aguardada a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não pôde comparecer porque ainda se recupera de um procedimento no quadril.
Joênia anunciou um estudo para demarcação da Terra Indígena Kapôt Nhinore, localizada nos municípios de Vila Rica (MT), Santa Cruz do Xingu (MT) e São Félix do Xingu (PA). A área delimitada abriga a aldeia onde o cacique Raoni nasceu e é uma área sagrada para o povo Kayapó.
Uma carta assinada pelas lideranças reunidas no encontro termina com um alerta para que o homem se preocupe com o futuro. “Não há dinheiro que compre outro planeta”.
“Nossos ancestrais há muitos anos vêm avisando que a saúde da terra não é responsabilidade só nossa, ela é responsabilidade de todos, se o céu cair, a terra incendiar e as águas subirem, todos nós iremos morrer. Não há dinheiro que compre outro planeta”.
Oo longo de sua trajetória na defesa do meio ambiente e dos povos indígenas, o cacique Raoni, de 95 anos, recebeu apoio de várias personalidades estrangeiras, como o Rei Charles e o cantor Sting.