O impacto do coronavírus na economia, que no Brasil, antes da pandemia já andava muito mal das pernas, com desemprego acelerado, ainda amarga a inoperância do governo em amenizar o sofrimento de milhares de trabalhadores que não conseguem sequer dar entrada ou receber o seguro-desemprego.
Com as Superintendências Regionais do Trabalho fechadas, falhas no aplicativo e no site da Carteira de Trabalho Digital, e também no número de telefone disponibilizado, as dificuldades se multiplicam.
Só nos meses de março e abril, 1,1 milhão de pessoas com carteira assinada ficaram desempregadas.
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Apenas na primeira quinzena de maio, 500 mil trabalhadores pediram o seguro desemprego, mas, segundo o próprio Ministério da Economia, cerca de 250 mil pessoas ainda não conseguiram dar entrada no pedido.
Os trabalhadores relatam que não conseguem chegar ao final do procedimento no aplicativo, que o sistema cai, que aparecem avisos de que os dados estão incorretos, etc. Nas ligações para o Alô Trabalho 158, os relatos são de que nunca conseguem completar a ligação, nem serem atendidos, ou simplesmente escutam a mensagem de que o número não existe.
Como relatou o contador Alysson Viana, 44 anos, em reportagem à Folha de SP. Alysson foi demitido em março e baixou aplicativo Carteira Digital. Após preencher os dados solicitados, recebeu a mensagem “aguardando confirmação no posto”. Ao tentar ligar para o 158, também não conseguiu ser atendido.
“Demorei dias para conseguir ligar, porque não atendia. Uma mensagem dizia que todas as linhas estavam ocupadas e que eu deveria tentar outro horário. Consegui contato apenas no dia 9 de abril, dez dias depois da tentativa inicial. A atendente disse que receberia algum retorno em até uma semana. Até hoje não tive mais resposta.”
O governo alega que 85% dos pedidos são feitos de forma digital e diz que “uma adaptação tão grande não é trivial”. E reconhece que “houve problemas no meio do caminho”, mas que “eles foram solucionados”. A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho diz ainda que as Superintendências Regionais do Trabalho redobraram esforços para garantir atendimento não presencial.
A secretaria também afirma que está em andamento a contratação em modalidade emergencial de ampliação das posições de atendimento da central.
Enquanto isso, assim como vem ocorrendo com milhões de pessoas que não conseguem receber o auxílio emergencial, ou pequenas e micro empresas que não conseguem acesso ao crédito para não fecharem as portas e demitirem mais trabalhadores, os desempregados têm que continuar se virando como podem para sobreviver.